29 de março de 2010
Valsinha
(Vinicius de Morais e Chico Buarque)
Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz
25 de março de 2010
18 de março de 2010
Para levar a infância a sério
As crianças não brincam de brincar. Brincam de verdade...
Triste de quem não conserva nenhum vestígio da infância...
Vocês já repararam no olhar de uma criança quando interroga? A vida, a irrequieta inteligência que ela tem? Pois bem, você lhe dá uma resposta instantânea, definitiva, única – e verá pelos olhos dela que baixou vários risquinhos na sua consideração.
A criança que brinca e o poeta que faz um poema – estão ambos na mesma idade mágica!
Ah, aquela confiança que tem uma criança rezando...Inocente confiança. Alegria. Quem é de nós que reza com alegria? Parece que só existe mesmo o Deus das crianças...Deus é impróprio para adultos.
Não são todos os que realizam os velhos sonhos da infância.
Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança, tenha ela oito ou oitenta anos.
Não importa o enredo das histórias: o que vale é o êxtase de quem as escuta. Por isso é que as crianças gostam mesmo de ouvir sempre as mesmas histórias, como se fosse da primeira vez.
Só deveria haver escolas para meninos-poetas, onde cada um estudasse com todo gosto e vontade o que traz na cabeça e não o que está escrito nos manuais.
Quando a gente era deste tamanhozinho, aí sim, Deus estava logo ali por detrás das estrelas, todas elas muito perto também. Depois nos aconteceu, com a sapiência adulta, essa infinita distância... Mas na verdade as crianças estavam mais a procura da verdade. Pois Deus não será a procura de Deus?
Oh! Aquele meninozinho que dizia/ “Fessora, eu posso ir lá fora?”/ mas apenas ficava um momento / bebendo o vento azul.../ Agora não preciso pedir licença a ninguém.../ mesmo porque não existe paisagem lá fora:/ somente o cimento./ O vento não mais me fareja a face como um cão amigo.../ Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.
Que importa o asfalto, o cimento, isso tudo? As meninazinhas sempre saem da escola correndo descalças sobre a relva.
Nesses desenhos de crianças – vocês também repararam? - Há alguns em que não aparece aquela costumeira estradinha que leva à porta de suas casas...
Benditos, mil vezes benditos aqueles carrosséis que ensinaram aos meninos de meus tempos a pura alegria de viajar
Do livro "Para viver com poesia" - Mário Quintana
15 de março de 2010
O AMOR SOB LENTES
9 de março de 2010
8 de março de 2010
3 de março de 2010
Cuide de você...
Estive no MAM durante a exposição CUIDE DE VOCÊ da Sophie Calle.
Enquanto lia o e-mail de X para Sophie Calle, uma tristeza profunda tomou conta de mim. Mesmo que a dor tenha uma importância subjetiva, compartilhei dessa dor.
De certa forma, visitar a exposição é se colocar no plano do deleite, da re-significação. Vivencia-se ali uma experiência de ruptura, de frustração, transformada em percurso através da arte. A arte como manifestação do humano é verdadeiramente sublime, indescritível, intangível, arrebatadora.
"Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “Cuide de você”.
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim."
Sophie Calle
A melhor resposta pra mim foi a da adolescente: “Ele se acha”
A Carta de Amor
A carta de amor
Sobre a mesa, está jogada displicentemente, há anos, uma carta de amor. Eu nunca havia recebido uma carta de amor. Encomendei uma a um escritor público. Oito dias depois, recebi uma linda carta de sete páginas, escrita à mão, em versos. Havia custado cem francos, e o homem dizia: "... sem fazer um só gesto, segui você por toda parte...".
by Sophie Calle, Histórias Reais
1 de março de 2010
Into the wild
[Into the Wild, de Sean Penn]
1. A felicidade só é real quando é partilhada
2. Se deixarmos a vida ser guiada pela razão, a sua plenitude é destruída
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